One-Shot | United States

em sexta-feira, janeiro 20 |

Título: United States
Escrita por: #SahhChan


Dados do Projecto
Iniciado em: 21/09/2016
Finalizada em: 03/11/2016
Idioma: Português
Categorias: Anime & Mangá
Sub-Categorias: Kuroko no Basuke
Personagens: Alexandra Garcia, Kagami Taiga, Himuro Tatsuya, Personagens Originais

Classificação: +18
Géneros: Hentai, Romance, Shounen
Avisos: Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Spoilers

Aviso Legal:
Os personagens encontrados nesta história não me pertencem, mas aos respectivos autores e criadores dos mesmos. Os eventuais personagens originais desta história são propriedade minha. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã.

Notas da Autora:
Esta One-Shot foi escrita em Português de Portugal.
Está a ser postada em sites do género (Spirit Fanfics), nos quais tenho um perfil público.
A maioria das personagens usadas e/ou mencionadas, bem como parte da história usada na Shot, pertencem a Sawako Hirabayashi, autor do Manga "Kuroko no Basket". Existem ainda personagens originais nesta obra, que são da minha inteira autoria e responsabilidade.


Sinopse:
Mesmo antes da "Winter Cup", Kagami toma a decisão de regressar à América para voltar a pedir à sua mestra, Alex Garcia, para treiná-lo. À chegada, um dos fantasmas do passado dela parece estar prestes a ser desenterrado, o que obriga Kagami a reviver vários episódios de há alguns anos atrás, acabando por se aperceber de coisas que nunca pensara antes vir a sentir.
"United States" antecede a história descrita na OneShot "Winter Cup".




Capítulo Único


Aterrei em Boston por volta das 02:00 da tarde. Naquele dia, estava um calor dos diabos e eu ainda tencionava fazer algumas coisas antes de seguir para casa dela. Parei num quiosque à saída do aeroporto para comprar o jornal desportivo, mas pouco olhei para ele antes de o meter dentro da mochila, dobrado ao meio. Fui direito à praça dos táxis e meti-me num, dizendo simplesmente ao motorista para me levar ao supermercado mais perto da 72 Charles Street South. Quando eu chegasse a casa dela queria levar o máximo de provisões possíveis... Caso contrário, das duas uma: ou passaria fome, ou comeria fast-food o dia inteiro. E se eu aumentasse demais de peso sem ser ao ganhar massa muscular, a treinadora iria matar-me.

Comprei uns quantos quilos de bifes, de batatas, massa e alguma carne mais variada. Ainda enchi uns dois sacos e voltei ao táxi, pondo tudo na mala ao pé da minha mochila. No geral, tudo ali continuava exatamente na mesma desde há uns meses, quando eu tinha regressado ao Japão para começar o ano em Seirin.

Rapidamente me voltei a habituar ao Inglês. Normalmente quando estava na América, tinha de me adaptar rapidamente, pois os únicos com quem podia ir falando o Japonês ao longo da estadia eram a Alex e o Tatsuya. Mas até o Tatsu voltara ao Japão... Ou seja, os velhos hábitos iriam voltar, com a diferença que, desta vez, seríamos apenas nós os dois. Não que fosse mau... Eu podia aproveitar para exigir que ela me desse o mesmo tipo de treino que lhe havia dado a ele enquanto eu havia estado afastado e ele permanecera em Boston. Ela teria muito mais tempo para isso e, com apenas um aluno para treinar, seria bem mais fácil e eu também conseguiria apanhar tudo com o dobro da rapidez. Precisamente... Só via vantagens em ir procurá-la naquele momento. Era a altura perfeita.
Não estranhei quando o taxista me deixou à porta e eu notei que as janelas do apartamento dela estavam todas fechadas. Olhei para o relógio. Ela devia estar no parque ao pé do campo de jogos, ao certo a ensinar os miúdos, como costumava fazer connosco. Sabia que ela continuava nessas andanças e, talvez por isso, eu continuasse a confiar nela para me ensinar sempre mais alguma coisa. Ela nunca deixara, de facto, o basquetebol e isso estava bem patente em tudo o que continuava a fazer da vida. Mas eu percebia como era. Eu também era assim.

Subi para a entrada tocando à porta. O porteiro não tardou muito a vir abrir e, tal como eu esperava, reconheceu-me de imediato. Falei com ele durante um tempo, explicando-lhe que iria ficar por uns dias e pedindo-lhe que me abrisse a porta para eu ter ao menos uma refeição decente pronta para quando ela chegasse a casa, exausta de mais uma dúzia de aulas. Ele riu-se e limitou-se a caminhar à minha frente, permitindo-me a entrada. Foi embora com o pretexto de ter de continuar atento ao seu trabalho, pois começava a aproximar-se a hora de os condóminos chegarem a casa. Eu agradeci e voltei para dentro depois de fechar a porta, metendo mãos à obra e agarrando-me ao fogão.
Pus uma frigideira ao lume, começando a descascar as batatas enquanto o azeite e o alho iam fervendo lentamente. Ao fim de uns minutos, foi a vez dos bifes. Agora era só fazê-los fritar um bocado ali e ganhar aquele gostinho. Aproveitei para despir a sweat num instante, procurando o avental atrás da porta e colocando-o para não sujar a t-shirt. Já ouvia, no entretanto, o barulho da carne a ganhar uma crosta deliciosa ao lume. Sorri, meio convencido para mim próprio. Não era para me gabar mas... Aquele jantar iria ficar divinal. Um verdadeiro manjar dos deuses, tendo em conta a comida do avião quando se viajava em classe económica.

Preparei a panela com o óleo para fritar as batatas, em seguida. Ao mesmo tempo, ouvi o barulho da porta da rua abrir, no exterior da cozinha.

- Eu sabia que já tinhas chegado – ouvi-a pousar a chave na mesa da entrada, certamente ao mesmo tempo que despia o casaco, para acabar por deixá-lo simplesmente espalhado sobre o encosto do sofá grande – O Ralph disse-me que tinha visitas à minha espera cá em cima.

Levantei os olhos para encará-la quando a vi entrar divisão a dentro. Talvez não viesse nem a propósito mas agora que me centrava nisso, notava-se bem que ela tinha ganho algum peso. Mesmo com a actividade desportiva, era notório que a idade começava a notar-se. E o estilo de comida que ela punha ao bucho todos os dias fazia bem o seu trabalho nessa parte também, ao que parecia.

- Visitas e jantar – acrescentei, voltando os olhos para os bifes novamente, virando-os para os deixar cozinhar um pouco do lado oposto  e mesmo ganhar alguma cor – Não tenciono deixar que continues a subir algarismos na balança à conta de hambúrgueres, pizzas e Coca-Cola.

A sobrancelha direita dela arqueou-se, ao mesmo tempo que a boca se abria ao olhar para mim.

- Incrível como numa só frase conseguiste ser tão prestável e tão miserável, Taiga – disse-me somente, fixando os olhos em mim sempre da mesma forma – Foi para isso que te criei, para seres um mal educado?

- Essa pergunta não corresponde bem à verdade, sabes?

- Ai não? E porquê?

- Porque tu não me criaste. Deste apenas uma pequena ajuda ao desenvolvimento dos meus instintos desportistas, nada mais.

- Hum, está bem, então.

Ela calou-se dessa vez. Notei, ao olhá-la de relance, que dessa vez se limitava a encarar a panela das batatas, embora me parecesse que a cabeça não se lhe prendia bem ali, naquela cozinha. O ar dela soava mais sério, menos... Semelhante ao da Alex que eu costumava conhecer e que aceitava de bom grado os meus picanços, retribuindo-os com toda a rapidez.

Desliguei o lume dos bifes, deixando-os terminar de fritar no quente do azeite, as batatas ainda longe de estarem no ponto, quando contornei o balcão para me aproximar dela um pouco. Sorri de lado ao olhá-la de cima. Já estava mais alto do que ela. Nem soava a que ela fosse mais velha do que eu se fôssemos a ver disso por uma questão de alturas. Até porque... Mesmo que eu a chateasse, ela sabia que para mim a idade não era mais do que apenas um número... Certo?

- Tive saudades tuas, Alex – murmurei, bem mais sério dessa vez. Aos poucos, os olhos dela deixaram-se fixar os meus, um mar pleno a perder-se no fogo intenso, nem eu ao menos me apercebi durante quanto tempo. Sorri-lhe levemente depois.

- Claro – disse ela com o mesmo sorriso leve dessa vez, aproximando-se um bocado sem parar de me encarar daquela forma – Agora a sério, vais fazer o quê a seguir? Chamar-me velha?

Abanei a cabeça, acabando por suspirar ao mesmo tempo que virava costas para voltar de novo a atenção para o jantar.

- Se não percebeste a brincadeira, não vou perder tempo a explicar-te.

- Nem precisas – ergui o olhar ao ver que ela suspirara também, entretanto – Vou aproveitar para me ir pôr à vontade já que ficas de roda disso. Vê se não me explodes a cozinha durante o tempo que vou e venho do quarto.

- Ah! Tens cá uma lata! – queixei-me, subindo a voz uns quantos decibéis para manifestar a minha indignação pelo comentário. Como se eu lhe fosse explodir a cozinha... Mais depressa era ela a fazer isso, aliás, eu nem sei como é que aqueles electrodomésticos ainda funcionavam todos tão bem se sofriam de uma patologia chamada “grave falta de uso”.

Ela sorriu, antes de se encaminhar para o corredor. Não fui capaz de não fazer o mesmo, imediatamente de seguida.

Era assim que nós éramos... Sempre a picar-nos, sempre como se estivéssemos de costas voltadas, sempre às bocas um ao outro, sempre entre socos psicológicos um ao outro várias vezes... Mas sempre... Amigos. Era uma amizade verdadeira. Tirando a treinadora, ela era a única rapariga que falava a minha língua. Que percebia claramente o meu tipo de vocabulário. Que sabia todas as palavras-chave de trás para a frente e da frente para trás, de cor e salteado. Ela era a única mulher que se esforçava por fazer parte do meu mundo. Por compreender os seus esforços. Talvez por também ela ser uma parte integrante dele, desde que me lembrava. Isso tornava a nossa ligação ainda mais forte do que já era, só por si.

Comecei a por a mesa, depois de tirar as batatas da panela e deixá-las escorrer um pouco. Servi depois as bebidas e os pratos, tentando que não esfriassem muito antes de ela voltar porque... Bem... Comida gelada não tinha grande graça... E porque, obviamente, queria que a refeição lhe soubesse... Nos soubesse... O melhor possível. Fui direito à porta, assim que notei que ela ainda não estava de volta.

- Alex, já está na mesa!

Nenhuma resposta. Continuei a fixar o corredor, à espera que ela aparecesse a qualquer momento, mas nada. Ainda não devia estar mesmo pronta. Ou, talvez, não devesse ter ouvido...

- Alex?

Nada ainda. Estranhei, acabando por atravessar o corredor, indo para bater à porta do quarto dela quando lhe ouvi a voz falar, bastante baixa, vinda lá de dentro. Parecia estar ao telefone...

- ... E eu só te atendi para te dizer que é melhor parares de me ligar...

Olhei para a maçaneta da porta, confuso. Que raio de conversa era aquela? Quem é que a andava a chatear? E porque é que... Ela não me tinha dito nada sobre isso?

- ... Eu não tenho tempo para isto, Bill, já resolvemos tudo o que havia para resolver.

Cerrei os punhos automaticamente ao ouvir aquele nome. A sério que... Aquele filho de um cabrão estava de novo a chateá-la? Era o quê, tinha-se cansado da puta com quem se tinha metido e agora vinha tentar gozar o pratinho outra vez? Ela já o tinha posto na rua, o que é que ele queria mais?

Abri a porta um pouco, encostando-me à ombreira de braços cruzados a olhar para ela. Devo ter feito barulho suficiente, porque ela virou-se logo na minha direcção e não pareceu ficar muito descansada com a cara com que me viu. Ela sabia que eu não gostava dele. Aquele filho de uma...!

- Precisas de ajuda a despachar alguém ou tenho de ir partir uns dentes a algum lado? – limitei-me a perguntar, nem me ralando com o tom com que o fiz. Ele deve ter dito algo do outro lado, porque a expressão dela endureceu – Ouviste, Alex?

- Já te avisei. Deixa-me em paz.

Fiquei a olhá-la quando ela desligou, acabando por me desencostar dali ainda com cara de poucos amigos.

- Ouviste ou não? – só questionei. Ela levantou os olhos para mim, abanando apenas a cabeça.

- Não é nada com que devas preocupar-te.

Estreitei os olhos para ela.

- É suposto isso servir para eu não me irritar ou para me deixar mais descansado?

- Ambos.

- Bem, azar o teu. Mission failed! – respondi somente, parando depois à frente dela após ter avançado a passo lento na sua direcção enquanto ia descruzando finalmente os braços. Suspirei – Porque é que não me contaste que ele andava a rondar-te de novo? Eu podia resolver o assunto, tu sabes disso!

Ela virou costas, a sua voz subindo de tom quase de imediato assim que ela se afastou do meu alcance.

- Não vais resolver nada, eu sei tratar de mim! – disse, como se esse pedido servisse para meter um ponto final naquele assunto.

- Já o fiz uma vez.

- Pois já, eu lembro-me, fiquei com marcas desse dia – olhou-me de relance. Simplesmente tornei a aproximar-me. Fixei o ombro dela, meio destapado pela camisola, por momentos. Eu também me recordava do dia em questão. Principalmente dos berros dele, dos berros dela, dos meus berros e de ninguém se entender na altura, no meio de tanta gritaria. Mas eu estava habituado a gritos, os meus pais costumavam gritar bastante quando discutiam, tinha eu por volta de uns 6 anos. Só que... Aquele gajo exagerava. Eu não gostava de ver a forma como ele a tratava. Nem o meu pai fazia aquele tipo de cenas à minha mãe.

« Ele tinha ciúmes de todo o tipo de coisas. Principalmente do que ela gostava de fazer. Das pessoas com quem ela gostava de estar. Eu e o Tatsuya incluídos. Principalmente... De nós os dois, mesmo. Eu nunca tinha percebido, de facto, o porquê disso mas... Ele tinha-nos um ódio de morte. E tinha sido num dia em que eu fora lá a casa para esperar por ela para um treino que os tinha ouvido discutir, daquela vez.

Já me tinha apercebido que o casamento deles não ia bem. Durante várias vezes a Alex parecia aérea durante os nossos treinos no parque. Nunca a vira chorar como a minha mãe costumava fazer depois de ela e o meu pai se chatearem, mas sabia que não era por a Alex reagir de forma diferente que, necessariamente, as discussões dela com o marido não eram graves do mesmo modo. O Tatsu e eu já tínhamos trocado umas ideias sobre isso, ambos tínhamos decidido que, se ele resolvesse algum dia fazer-lhe algo à nossa frente, iríamos reagir, fosse como fosse. Foi a mim que me calhou.

Cheguei cedo naquela tarde, ela ainda não devia estar a contar comigo. Tentei ligar-lhe antes de resolver ir mesmo tocar à campainha dela, estava demasiado calor e tinha uma sede dos diabos! Precisava urgentemente de um copo de água... Ou de um litro dela, visto que me tinha esquecido da minha garrafa fora do saco, mas ela haveria de me safar. Não atendeu. Aproveitei que um vizinho vinha a saír do prédio e esgueirei-me para entrar. Subi as escandas a correr, tentando recuperar algum fôlego quando cheguei ao 3º andar, respirando tão calmamente como era capaz no momento, ou seja nadinha de nada. Levantei a mão para tocar à porta e foi aí que me apercebi dos primeiros gritos.

Ela parecia possessa com alguma coisa. Cá de fora, eu não conseguia descodificar as palavras certas, mas consegui aperceber-me do essencial.

- ... Já te mandei saíres da minha casa...!

- A casa também é minha!

- Eu não tenho vocação para “corna mansa”, Bill!

- Já te disse que foi só uma vez! Foda-se, és surda?

- Vais saír da minha casa e é agora!

- Eu não vou a lado nenhum!...

Fixei a fechadura durante um bom tempo, estreitando os olhos ao aperceber-me de cada palavra. Aquele paspalho de uma figa, ele... Tinha-a traído. Ele tinha-a traído e ainda se julgava no direito de...?

- ... Não queres ir não vás, eu mando-te a bagagem pela janela! Não vou aturar-te mais aq-...!

Paralisei por completo no momento em que a porta se abriu e a vi à minha frente. Estava certo, eu tinha tomado esse compromisso com o Tatsu, se ele se metesse com ela, aquele que estivesse por perto iria reagir e fazê-lo pagar por isso. Só que, apesar de ser mais explosivo que ele em termos de palavras... Eu era bem menos de me deixar envolver em pancadarias do que o Tatsu. Pelo menos naquela altura, eu era assim. Era esse tipo de gajo. Antes de... Levantar a cabeça daquela vez... Antes de levantar a cabeça e... Perceber que ela... Estava a chorar.

Não exactamente a chorar, ela... Os olhos dela estavam demasiado brilhantes. Ela cerrava os punhos de uma forma que eu, por um lado, não era capaz de descodificar se pretendia segurar-se para não deitar sequer uma lágrima à frente dele, ou para não lhe atirar com algo bem duro acima até lhe partir a cabeça. Porque... Seria assim que a Alex reagiria a uma coisa daquelas. A Alex não era de se ficar. Ela era forte. Não era?

- T-... Taiga... – Ela parou quando me viu, desviando os olhos da direcção dos meus – Taiga, por favor, espera lá em baixo...

- Esse puto não entra na minha casa!

Olhei dela para ele. Fui cerrando os punhos tal como ela, mas eu não tentava não chorar, seguramente. Só tentava ter força para fazer o que tinha dito ao Tatsu que faria. Porque... Nenhum cabrão tinha o direito de fazê-la ficar nervosa daquela maneira. De a fazer chorar ou quase a levar a isso. Fosse o marido dela ou o raio que o partisse!

- Não a ouviste? A casa NÃO É tua, DESANDA DAQUI!

- Taiga...

Não liguei a quando ela me tentou afastar, entrando casa a dentro e indo logo direito a ele. Eu tinha crescido... Já não tinha 10 anos. Tinha praticamente a altura daquele “armário ferrugento” de meia-tigela. Não tinha medo. Dava-lhe no focinho, se fosse preciso, aguentava bem com ele.

- Já te disse para te pores na RUA!

Não esperei por um segundo empurrão para reagir... Ou por um segundo murro na boca. Eu podia ser mais novo, mas isso não era garantidamente mau. Tinha mais genica, até mais força se quisesse, porque eu não conseguia controlá-la muito bem, mesmo ela mo dizia várias vezes durante os treinos. Por isso, fui até bastante rápido a levantar-me. Consegui desviar-me dessa vez... Ele não tinha muita pontaria e eu nem sabia distinguir se o tipo seria mesmo mau em acertar no alvo ou se estava um bocado bêbado porque, ao longo de alguns movimentos, parecia que até lhe estava a custar aguentar-se de pé.

- Parem com isto, já chega! – ouvi-a gritar-nos. Ignorei. Ele fez o mesmo e voltou a tentar acertar-me. Desviei-me novamente, aproveitando aquela descoordenação dele, e agarrei-o pela zona da nuca e retribuí o empurrão, conseguindo que ele saísse porta fora. Não foi difícil fechá-la depois disso.

Respirei fundo, olhando para a minha mão depois de a levar à cara, as costas dela ficando subitamente recheadas de uma cor vermelha quando as passei pelo lábio. Mesmo só o tendo conseguido fazer uma única vez, aquele monte de esterco tinha-me acertado em cheio. E com força suficiente para me rebentar um bocado a boca. Merda... Que filho de uma...!

- Abre a merda da porta! – ainda o ouvi gritar lá fora. Levantei os olhos para a Alex, mal a voz dele se tornou novamente audível – Alexandra! Abre já!

Ignorei-o. Estava demasiado fixo na reacção dela para lhe dar qualquer importância que fosse. Porque... Ao contrário do que eu pensara que iria acontecer... Ele conseguira, de facto, fazê-la chorar realmente. E eu nunca o perdoaria por isso. »

Meio que lhe sorri, desviando os olhos dos seus.

- É, eu também fiquei – arqueei um bocado as sobrancelhas, acenando prontamente, com um ar mais sério, assim de repente – Acho que ainda hoje sinto o lábio inchado como se tivesse sido ontem que levei aquele murro. Tenho que confessar que o filho da mãe tem força.

Ela olhou-me, bem mais séria do que eu tencionava. Era suposto ela perceber que eu estava a ser meio irónico.

- Por isso mesmo, afasta-te disto! – disse, sem rodeios – Não te metas, Taiga. Não é um problema teu.

Levantei o queixo, no mesmo instante.

- É um problema meu a partir do momento em que ele se mete contigo.

- Porquê?!

- Porque eu GOSTO de ti, porra! – gritei-lhe dessa vez, deixando-me aproximar dela até ficarmos frente-a-frente.

Foi como se os meus olhos queimassem os dela, o mar dos dela apagasse ao mesmo tempo a chama dos meus. Era verdade. Eu... Gostava dela. Era essa a palavra certa, não existia outra para... Explicar. Ela era... Como... Uma mãe para... Não, uma mãe não. Uma... Irmã mais velha? Não... Fora de questão, isso soaria a algo demasiado estranho. Ela era... Era a minha melhor amiga! Isso bastava, era-me suficiente para explicar aquele sentimento. Para dar um sentido a como eu me sentia bem, como me sentia completo quando a tinha por perto. Eu... Gostava mesmo dela. De uma maneira meio doentia mas que, ao mesmo tempo, nem eu próprio sabia bem como estruturar. Tudo na forma como nos relacionavamos soava forte demais, mesmo nós dois sendo apenas discípulo e mestra. Tudo na nossa amizade... Era importante demais para mim. E talvez eu não tivesse bem a certeza de até que ponto ela me poderia fazer falta um dia, mas... Eu sabia que estar longe dela não fazia parte dos meus planos num futuro próximo. Simplesmente não podia fazer. Era impossível que fizesse. Não quando... Quando tudo o que eu pensava, tudo o que eu sentia... Se tornava tão forte, tão mais... Com um sentido tão maior mas tão confuso ao mesmo tempo quando eu pensava nela.

Eu sabia... Chegava a ser muito estúpido que eu a visse assim. Especialmente se, um dia, ela chegasse a pensar nisso, a aperceber-se bem disso. Nem eu mesmo sabia como falar do assunto e, de facto, talvez fosse preferível guardá-lo para mim. Era... No fundo, era mais fácil continuar a vê-la como sempre tinha visto, como me esforçava por continuar a ver: apenas como uma amiga. Talvez... Uma amiga especial. Que eu quereria ter sempre por perto, que me podia esforçar por proteger, mesmo ela gostando tão pouco disso por se preocupar demais comigo. Mas era assim que as coisas eram... Preocupavamo-nos demais um com o outro, era dessa forma que uma amizade devia ser... Não era? Ou eu estava errado quanto a isso? Ou a base do pouco que tínhamos não cobria esse tipo de acções, de parte a parte?

Continuei somente a encará-la, fogo temperado em água gélida, à medida que ela ia quebrando todas as minhas defesas, a cada respiração. Eu nunca... Nunca soubera bem como reagir a proximidades. Às dela, principalmente. Ficava sempre encabulado quando ela tentava beijar ou apertar-me as bochechas, quando era mais miúdo. Quando me abraçava ou pegava no colo, eu sentia o rosto ferver-me da raíz à ponta dos cabelos. Lembrava-me... Que o Tatsu costumava fazer troça de mim por conta disso, às vezes. Simplesmente, eu não sabia... O que fazer. Como... Como responder-lhe, sem soar a um idiota. Sem soar a como... Uma criança a quem uma mulher dá atenção pela primeira vez. Uma atenção que eu tinha, inclusivamente, pouco recebido de outra mulher: da minha própria mãe, que, por conta do trabalho, raramente tinha algum tempo para mim. Eu não queria... Que a Alex achasse que eu a via como uma substituta dela, apenas isso. Devia ser só isso, de certeza absoluta. Aquele gostar que eu sentia. Só podia ser isso... Ou não?

- Alex... Eu...

- Schh... – engoli em seco no mesmo instante, no momento em que os dedos da mão dela pressionaram os meus lábios, impedindo-me de continuar sequer a raciocinar, quanto mais a produzir um discurso coerente. O toque das suas mãos passou a procurar-me o rosto. Os cabelos. A nuca. Os meus olhos continuavam presos nos seus, sem descolar um milímetro, sob ameaça de loucura. Eu... Eu sabia que estava louco... Só podia ser essa a resposta...

Porque o eu aproximar-me como estava a fazer... O encaixar as minhas mãos na cintura dela como estava a fazer... O deixar-me roçar o nariz pelo dela à medida que os meus olhos se fechavam como estava a fazer... Só podia significar que eu tinha entrado num patente estado de loucura. E que, quando aquele transe terminasse, eu iria ser considerado culpado das minhas acções e levado a arrepender-me. Porque... Eu não devia...

Eu não devia...

... Beijá-la.

Então... Porque é que eu queria? Porque é que... Os meus lábios só se moviam mais nos dela, porque é que... As mãos dela procuravam mais o toque do meu peito? Não era... Suposto ela querer aquilo também, pois não? Nós... Não era suposto... Aquilo saber tão bem assim, ser tão... Bom assim, pois não?

Alex...

Eu sentia-me... Tão confortável com ela. Tão confortável e ao mesmo tempo... Assustado. Era a primeira vez que... Eu abraçava uma mulher assim. Que... Os meus lábios procuravam os de uma mulher daquela forma. A primeira vez que eu... Sentia o meu coração bater tão forte daquela maneira, quase perto de me apertar tanto a pontos de me fazer quase deixar de respirar. Era... Tão confuso. A minha cabeça não estava a raciocinar, de todo. O meu cérebro tinha parado, eu era apenas controlado pelo instinto. Apenas... O mero instinto, que só me pedia para não parar com aquele toque, aqueles beijos. O instinto... E ela.

- És... Tão bonita... – sussurrei-lhe ao ouvido, em voz baixa. Senti, automaticamente, a minha pele tremer com o arrepio dela, quando o fiz. Nem sabia porque... O dizia. Porque... Era estúpido, certo? Um tipo como eu nunca... Nunca diria as coisas daquela forma. Nunca... Falaria daquela forma, por muito... Por muito... Estranho que se sentisse.

Aliás, era sequer normal um gajo dizer coisas daquelas?!

Não era. Um gajo... Só dizia coisas daquele género quando... Quando estava apaixonado e essa merda de amor só acontecia nos filmes e nas novelas. E era uma parvoíce pegada, porque... Isso nem combinava comigo. Eu não era assim. Não era o tipo de rapaz que se apaixonasse assim, à toa, do nada. Além de que... Não fazia sentido. E, mesmo que fizesse, ela nunca... Sentiria esse tipo de coisas por mim. Eu não passava de um puto. Um puto que ela vira crescer, era só o que eu era. E, lamechices à parte, eu não tinha a certeza se quereria tornar-me em mais do que isso, aos olhos dela. Porque... Oh, vá lá... Ela não precisava de alguém que a desapontasse de novo, pois não? Já tinha tido a dose dela com aquele energúmeno daquele ex-marido, tinha-lhe sido mais do que suficiente. Eu não queria... Ser outra desilusão.

E, rebuscando todas as minhas ideias internas, eu não encontrava um único vestígio de algo que me dissesse que eu não me tornaria numa, caso alguma coisa acontecesse entre nós dois.

Portanto... Eu tinha de esquecer aquilo. Tinha de parar de a abraçar, de protegê-la contra o meu peito ou acariciar-lhe o rosto daquela forma, só para mantê-la mais perto. Tinha, simplesmente, de... De... Merda, como é que eu a afastava agora sem me desfazer todo em cacos por dentro...?

- Eu... Alex...

Calei-me. Eu... Eu queria mesmo afastá-la? Era isso? Porque... Pensar em afastá-la de mim doía. Só o pensamento cortava-me os batimentos do coração, magoava, feria-o. Agora a sério... Eu queria mesmo... Virar-lhe as costas? Logo agora? Depois de... De estarmos assim? Mesmo aquilo sendo tudo tão errado?

Porque era demasiado errado.

Eu tinha 16 anos. Ela tinha algo como o dobro da minha idade e mais alguns meses. Aquilo... Nunca daria resultado. Eu sabia disso, não era tão burro assim. Mesmo nós já nos conhecendo há tanto tempo e as coisas acontecendo por mútuo consentimento, eu não deixava de ser menor. E isso... Podia arranjar-lhe sérios problemas, estivéssemos nós em que parte do planeta fosse. Coisa pela qual eu não queria ser culpado, jamais. Porque... Aquela ideia estapafúrdia de que “a idade era apenas um número” funcionava bem na ficção, mas a realidade deparava-se com factores demasiado diferentes, que podiam abalar qualquer espécie de romance.

- Tu és... Tão importante para mim, Taiga...

Suspirei apenas, antes de esconder o rosto nos cabelos dela, abraçando-a somente, deixando-me apreciar aquele perfume suave que eles soltavam. Algo na minha cabeça me dizia que... Não lhe era fácil falar daquela forma. A Alex era demasiado esgroviada e desbocada, mas eu nunca a conhecera a ser-lhe fácil falar acerca do que sentia num determinado momento. No fundo, nenhum de nós os dois tinha facilidade nesse tipo de coisas. Éramos... Demasiado parecidos um com o outro, nesse sentido.

- Por favor, não... Não digas isso assim... – pedi, de novo no mesmo tom, afastando-me depois para olhá-la. Era tão... Incrível como todas as minhas defesas perdiam a força de cada vez que... Aquele mar me encarava com aquela intensidade. Como ele conseguia deitar abaixo, todas elas, uma por uma.

Foda-se...

Eu estava tão atolado em merda até ao pescoço, naquela história toda.

- Desculpa...

- Eu é que peço desculpa – apressei-me a dizer, um pouco mais alto, ao vê-la desviar os olhos. Ao... Senti-la afastar o toque da mão da minha pele. Do meu rosto. Porque... Aquele toque sabia-me tão bem e... E fazia-me tanta falta. E deixava-me com uma porra de um vazio tão grande no peito não o poder sentir por perto, quente na minha bochecha, como até ali estivera – Eu... Eu só não...

- Eu percebo...

- Não, não percebes! – interrompi novamente, fazendo a minha voz subir outros quantos decibéis e a minha mão procurar a dela, uma vez mais, desesperada por voltar a sentir-lhe aquele calor – É impossível perceberes algo que nem ao menos eu próprio percebo sobre mim.

Ela suspirou.

- Taiga... – os olhos voltaram a encarar os meus, no mesmo instante – No tempo em que eu estive casada... As coisas não correram muito bem, tu sabes disso. O Bill tinha... Um feitio difícil – a mão dela voltou a procurar a minha bochecha, aconchegando-a, fazendo o aperto no meu peito aquietar-se e aligeirar, quase de imediato – Enquanto éramos namorados, ele tolerou as minhas crianças. Mas ele sempre pensou que eu largaria os meus alunos quando casássemos e... Digamos que o eu ter-me recusado a fazê-lo acabou por estragar tudo entre nós.

Fixei-a, a confusão a crescer-me em pleno no olhar.

- Isso não tem nada a ver com...

- Tem, tem muita coisa a ver – cortou ela, simplesmente me largando dessa vez, antes de virar costas. As minhas mãos tiveram uma reacção quase imediata, tremendo de tal forma que tive que cerrar os punhos, para que ela não a notasse. Era como se... Elas tivessem lutado para voltar a agarrá-la. Como se só o facto de ela lhes ter afastado o toque as deixasse geladas, prontamente – Tu... E o Tatsuya... Vocês ajudaram-me muito na altura. Eram os dois rapazes mais ligados a mim. Mantinham-me sã de mente. Davam-me coisas com que ocupasse a cabeça. Os treinos que eu vos dava e o tempo que acabava por passar convosco todos os dias dava-me forças para eu os aguentar de cabeça erguida, porque tinha de vos guiar, de alguma maneira. E com isto, eu, consequentemente... Também acabei por me ligar bastante a vocês os dois.

- Alex...

- É perfeitamente normal que nós dois... Que agora nos sintamos tão bem um com o outro, desta forma, entendes isso?

Parei somente a encarar a figura dela. Era... Normal. Claro que... Claro que não era normal! Ela estava o quê, a usar aquele palhaço de uma figa como desculpa para eu gostar de estar com ela? Para... Eu me sentir como sentia quando estava com ela? Aquilo era o quê, para ela tentar explicar o que eu estava a pensar se nem eu próprio, tal como lhe dissera, sabia bem o que estava na minha ideia sobre o assunto?

Eu mesmo estava confuso com o que me estava a dar, naquele momento, caramba! Com a forma como o meu coração batia quando ela estava por perto, quando... Quando me beijava como fizera, nem há 10 minutos atrás. Quando me tocava e me abraçava, quando deixava que eu a protegesse no meu peito, entre aquela merda de carinhos todos que tinham preenchido aquela estupidez de momento que tínhamos praticamente acabado de viver juntos. Eu não queria acreditar que a razão disso era ele! Era o que ele fizera com ela. Não era justo, a razão não era essa!

Porque é que ela não percebia?!

- Ele não tem nada a ver... Connosco – limitei-me a dizer, cerrando mais os punhos – Com o que sentimos.

- Nem tu sabes o que sentes, Taiga! – a voz dela subiu de tom, os olhos fixando de novo como flechas os meus, prontos a atacar se eu tentasse ripostar em minha defesa com qualquer espécie de argumento – Eu conheço-te demasiado bem para saber que não fazes ideia do que é.

- E tu, sabes? – chutei, de imediato, avançando para ela de novo – Sabes, por acaso, que raio de merda estás a sentir? Que raio de merda sentes quando estás comigo? Quando me beijas? Por acaso sabes? Tens assim tantas certezas quanto aos teus sentimentos para falares com tanta convicção assim, sobre os meus?
 
- Eu sou tua professora. ... Isso.

Aproximei-me um pouco mais, a minha testa quase roçando na dela, perto o suficiente para as nossas respirações passarem a sentir-se, novamente. Baixei a voz quando falei, de seguida.
- Essa fala é mesmo tua ou fabricaste-a só para ver se me convences?

Esperei que ela respondesse, o que não aconteceu dessa vez. Em vez disso, os braços procuraram de novo o meu pescoço, rodeando-o na mesma medida que os meus lhe faziam o mesmo com a cintura, aproximando os nossos corpos por completo. Prendi a respiração ao prensar os lábios nos dela, dessa vez sentindo que o gesto seria completamente sem retorno, ao notar o cravar das unhas dela pela minha nuca, quando o fiz. Ela também não pretendia voltar atrás. Tudo em que teríamos de parar para pensar estava mais do que calcado. Já não iria acontecer, não mais. Estava mais do que garantido que seria dessa forma.

Ela não era... Jamais seria... Apenas e a minha professora.

Ela era... Uma mulher. Uma mulher que eu começava a perceber que conseguia deixar-me louco ao mínimo toque. Uma mulher que, a cada beijo que trocava comigo, levava as coisas ao ponto de me deixar num transe completo, só à espera de um próximo roçar dos seus lábios. Uma mulher... Cujo corpo eu... Notava agora que... Deixava o meu simplesmente em alvoroço. Cujo corpo era plenamente capaz de excitar o meu de uma forma demasiado agressiva para que eu aguentasse assim tudo tão bem, de ânimo leve. Uma mulher que eu queria beijar, acariciar, tocar, morder, amar, a noite inteira, se me deixasse.

E eu sabia que ela ia deixar.

Deixei as minhas mãos procurarem-lhe a zona mais a descoberto da roupa, a minha boca depositando beijos pelos seus ombros e pescoço, tentando que estes não permitissem que ela tivesse o impulso de se afastar do meu alcance. A paragem seguinte foi bem mais íntima, quando os meus dedos lhe adentraram pela parte de trás dos calções, conseguindo tocar-lhe pelas nádegas, sentindo aquela pele macia e, simultaneamente, tão arrepiada dela fazer a minha ter a mesma reacção. A cintura dela aproximou-se inevitavelmente um pouco mais da minha, os meus quadris movendo-me apenas o suficiente até ela poder sentir-me e a como me começava a deixar.

Eu estava, decididamente, a ficar doido. E a culpa era toda dela.

Os beijos voltaram a ser trocados. Aos poucos, fui começando a empurrá-la na direcção da parede do quarto, até conseguir encurrar-lhe o corpo por completo, o meu a barrar-lhe a passagem para fora dali. Sentia o ar ferver, custava-me respirar por me estar a sentir tão... Tenso. Estava desejoso por mais, por tê-la.

Não era por experiência própria que eu sabia o que fazer. Ela havia sido, desde sempre, a primeira mulher que se aproximara de mim àquele ponto, com quem eu alguma vez tivera vontade de o fazer como tinha agora. Nunca antes me sentira daquela forma, nunca antes quisera seguir tanto aqueles impulsos, que só me faziam pensar em sexo. Habitualmente, eu não dava importância a essas coisas. Não ligava a miúdas, não dava a mínima para curtes ou para a atenção de possíveis e hipotéticas namoradas. Era, no fundo, apenas um tipo que só pensava no desporto. Naquela ambição gerada pelo basquetebol. E era... Tão irónico... Que tivesse sido precisamente aquela mulher a despertar esse tipo de ambição em mim, um dia, a cultivá-la e a fazê-la crescer.

Portanto... Aquela seria a minha primeira vez. E daí que ela era minha professora? E daí que era mais velha? E daí que... Aquilo não era certo, afinal? Eu queria. Era isso que devia interessar-me, verdade? Eu queria. Ela queria. Ambos queríamos fazê-lo, um com o outro. Ambos ansiávamos por aqueles beijos. Ambos desejávamos aquele toque ou aquele corpo que nos passava, agora, a conhecer com tão maior detalhe. Para ambos... Cada carícia mencionava silenciosamente o quão bom seria fazê-lo juntos. De mim para ela, cada beijo procurava explicar que aquela seria mais uma coisa que eu tencionava que fosse ela a ensinar-me. Que eu adoraria, absolutamente, aprendê-la com ela.

Fechei somente os olhos, deixando-me embrenhar nas redes dela quando os nossos gemidos se elevaram pelo quarto. Os corpos começavam a suar em pilha, deixando os seus odores misturarem-se, enquanto cada beijo era trocado. Enquanto os dedos e mãos de um aprendiam a reconhecer o toque do outro. Enquanto o meu frio ia inundando o calor dela, a cada vez, a cada orgasmo a que chegávamos juntos. O ambiente ia-se tornando mais abafado, mais insuportavelmente quente, a cada movimento dos nossos corpos um no outro. A cada promessa não dita que o chapar dos nossos lábios acabava por calar.

Ainda me era difícil acreditar que a tinha nos meus braços. Que ela chamava por mim daquela forma. Que era o meu nome que ela dizia, totalmente em êxtase, naqueles momentos. Ainda não me fazia sentido que assim o fosse, ainda parecia uma espécie de sonho picante e idiota, daqueles que normalmente os putos têm com as professoras por quem têm alguma paixoneta parva. Mas... Aquele era tão real... Que eu não me importaria, de todo, de ficar preso nele para sempre com ela.


***

Não tinha nem ao menos vontade de mexer um músculo que fosse. Sentia-os, um a um, demasiado moles, a minha cabeça presa numa espécie de transe do qual me custava demais conseguir sair. Sentia toda a zona do corpo em que as mãos dela ainda tocavam, que a pele dela ainda roçava, abundantemente quentes. O suor escorria-me pela maioria dos locais, eu nem sabia ao certo mencionar cada um. Mas... Isso não impedia que eu estivesse demasiado confortável naquele ninho.
Mantinha os olhos fechados... Não queria acordar. Se aquilo era, de facto, um sonho, eu... Queria apenas manter-me dentro dele o máximo de tempo que me fosse possível. Estar naquela cama, entre aqueles lençóis com ela, fazia despertar em mim um sentimento de tanta segurança mas, ao mesmo tempo, tanto medo que chegava a deixar-me completamente em pânico. A possibilidade de ela querer esquecer tudo aquilo, todas aquelas últimas duas horas era o que mais me assustava. Tudo bem, ela tinha o direito de querer fazê-lo, eu não a poderia nunca condenar por tal coisa, mas... Assustava-me bastante porque... Se eu tivesse de ser obrigado a esquecer... De esquecê-la... Como raio é que eu ia conseguir ser capaz de olhar para ela como olhava antes?

Senti-a aninhar-se mais no meu peito, a mão descendo e subindo novamente desde os meus ombros à minha barriga. Toda enroscada naquele abraço, eu só desejava que ela se sentisse quente o suficiente para que isso a impedisse de se afastar durante um bom tempo. Aproveitar ao máximo... Ela não me iria querer condenar por querer tanto isso, pois não?

Não conseguia... Não me lembrar de quantas vezes o Tatsu me havia dito que aquilo acabaria por acontecer. Incrível como... Aquele idiota sempre soubera... Até mesmo antes de eu próprio o que eu estava a começar a sentir. Fosse pela forma como eu olhava para ela, como lhe falava... Como até tinha ciúmes daquele... Cabrão do ex-marido dela... Nem eu mesmo me havia apercebido e...

Aff...

Sim, o Tatsuya irritava-me. Sempre dera aquele aspectozinho petulante de quem não dava a mínima para essas coisas, tal como eu, mas às escondidas de toda a gente era um pervertido. Eu bem via o tipo de falinhas mansas com que ele cantava uma rapariga diferente a cada semana... Algo totalmente não o género dele, aos olhos de todos. Nem a Alex o conhecia dessa forma até há bem pouco tempo atrás, pelo que eu sabia.

« Tentara, diversas vezes, esquecer aquela semana. Há praticamente cinco dias que a Alex não dizia nada, não marcava treinos, não falava comigo. Ela tinha casado há cerca de dois meses... O dia daquele casamento tinha-me deixado mais de rastos que uma merda de jogo qualquer. Lembrava-me que tinha fugido por um tempo da festa... Não me sentia bem, aquilo era tudo menos um motivo para eu estar feliz. Ela tinha cometido precisamente a mesma asneira que os meus pais... Logo ela, que eu julgava que nunca seria tão burra a esse ponto. Logo ela, que... Era a minha melhor amiga... Ia deixar-me sozinho agora, por conta de um merdas de um homem qualquer??!

Tinha fugido para casa para ir buscar a bola de basquetebol que ela me tinha oferecido. A primeira coisa que ela me tinha dado, pouco depois de me começar a treinar. Livrei-me da porcaria daquela gravata horrorosa e desconfortável e abri os primeiros botões da camisa, antes de sair, novamente, agora em direcção ao campo de jogos. Tinha conhecido, tanto o Tatsu como ela, naquele lugar. Mas o Tatsuya revelara-se um traidor. Ele não pensava como eu, ele achava bem ela casar, ser feliz. Mas... Ela não seria feliz. Eu sabia disso. A Alex era como se fosse... Um pássaro. Ela era... Demasiado livre para aguentar estar presa a alguém. Sem poder voar, sem poder... Ser totalmente ela. Não me agradava que ela deixasse de ser aquela Alex, a minha melhor amiga. O Tatsu nem se importava. Isso irritava-me bastante nele.

Mas, entretanto, as coisas haviam mudado um pouco. Ele acabara por chegar à mesma conclusão que eu, de que a única coisa que aquele homem tentaria fazer seria mudar a Alex. Afastá-la de nós. Ele não gostava que ela desse aulas. Odiava que ela tivesse as crianças dela. Que nós fôssemos as crianças dela.

“Tens falado com a Alex nos últimos dias? Ela não me responde às mensagens há praticamente uma semana, foda-se, estou a ficar preocupado a sério...”

A resposta dele tardou um pouco. Normalmente, o Tatsu era rápido a responder-me... A não ser que, na volta, estivesse ocupado com alguma coisa. Ou alguém.

“Não, há uns dias que não falamos. Hum... Porquê essa preocupação toda, Taiga, aconteceu alguma coisa entre vocês os dois que eu não saiba?”

Fiquei entre o confuso e o chocado a encarar o telemóvel, sem saber bem o que deveria responder, para início de conversa. Eu não estava bem a ver, na realidade, onde aquela pergunta dele pretendia chegar... Ou melhor, eu recusava-me a querer ver, era mais isso.

Ele... Mas ele...?

“Oii?? Tipo o quê?? Claro que estou preocupado, da última vez que tivémos treino com ela, o idiota do Bill ligou-lhe e ela saiu a correr com uma cara de enterro, queres que não esteja preocupado?!”
“Sim, sei. Pronto, calma lá, calmeirão! Só perguntei porque notei que tens olhado muito para ela... Especialmente quando ela se destapa mais. Eu sou atento a essas coisas.”

Franzi o sobrolho, lendo aquilo mais do que uma vez para tentar assimilar bem aquela afirmação. Ele... Lembrava-se que ela tinha idade para ser minha mãe, praticamente, certo? Ele estava a ver coisas onde elas não existiam... Certo?

“Talvez te tenha escapado um pormenor importante, senhor espertalhão... Aliás, dois ou três. Um, ela é nossa treinadora. Dois, ela tem praticamente idade para ser nossa mãe. Três, ela é CASADA. Com um tipo que me irrita e que eu não suporto ver à frente, mas ainda assim é casada. Portanto, para teu governo, não. Não tenho olhado mais para ela do que o normal, nada tem fugido ao normal, porque simplesmente eu não sou como tu... Não ligo a esse tipo de coisas. Espero que estejamos entendidos.”

Suspirei. De facto... As coisas que aquele idiota daquele Tatsuya dizia não tinham qualquer espécie de nexo para mim, não me entravam na cabeça. Ah, mas eu sabia bem aquilo que ele estava a tentar fazer... Ele estava a tentar aplicar-me uma lavagem cerebral, essa era a ideia, e ela não me agradava nem um bocadinho! »

Durante anos, eu ignorara aquela conversa. Aquelas insinuações que ele havia feito, porque elas me pareciam tão descabidas, tão despropositadas, que eu quase me esquecera por completo de qualquer uma delas. Ele fazia tudo para me picar, desde sempre. O fantástico é que agia sempre de forma a que toda a gente pensasse que era exactamente o contrário. Era o típico “lobo em pele de cordeiro”, que parecia santo aos olhos de cada pessoa.

Porque, lá está, ninguém o conhecia como eu...

... E a Alex.

Beijei-a na testa, suspirando profundamente, após voltar a inalar aquele perfume dos seus cabelos, ainda espalhados pelo meu peito. A única coisa que me deixava meio parvo da cabeça relativamente àquela história toda, era como eu havia sido capaz de ignorar o que verdadeiramente sentia por ela, ao longo de tanto tempo. Isso sim, deixava-me puto. Porque aquela podia não ter sido a primeira vez. Talvez fosse só... Uma atracção, talvez não passasse disso mesmo. No entanto, podíamos ter estado juntos antes, se eu lhe tivesse dito. Se ao menos tivesse demonstrado antes as minhas intenções. Mesmo que... Depois não desse em nada. Mesmo que ela não quisesse mais, pelo menos... Eu podia arriscar. Podia, ao menos, tentar, não?

- Hmmm... Estou esfomeada...

Ri-me um pouco, sorrindo meio de lado ao acariciar mais os seus cabelos, quando ela praticamente se sentou na cama, meio inclinada na minha direcção, para me conseguir encarar.

- O jantar já deve estar frio.

Ela encolheu os ombros, com um suspiro, mas meio a rir-se também.

- É para isso que serve um micro-ondas – limitou-se a responder. Deixei a minha mão descer-lhe pelo rosto através da zona das bochechas, o polegar roçando pelos seus lábios, enquanto eu somente os fixava, não conseguindo resistir a morder os meus.

Ela... Tinha, ao menos, ideia do quanto era capaz de me hipnotizar?

- És... A mulher mais linda que eu já vi.

A expressão dela seguiu a minha. O riso parou. Encarou-me já sem ele, ainda aquele sorriso esbelto parado nos seus lábios quando ela corou e desviou o olhar.

- Não sou nada... Tu é que és um tigre graxista.

Arqueei as sobrancelhas, sempre a fixar-lhe o rosto.

- “Tigre”?

Ela bateu-me no ombro, antes de voltar a deitar a cabeça no meu peito. Eu senti-o novamente mais quente, o coração batendo um pouco mais acelerado com a proximidade que ela lhe tinha.

- É assim que te imagino. Como... Um enorme tigre vermelho – disse, encolhendo os ombros – Tens... Uma aura assustadora de felino feroz em certas e determinadas situações.

Enrosquei-a, uma vez mais, nos meus braços, envolvendo-a por completo pela cintura. Acho que... Percebia onde ela tencionava chegar. Tinha notado, nos meus devaneios sobre aquelas duas horas, algures a voz dela a chamar-me aquilo enquanto... Nós... Bem...

- Eu... Gosto de ser o teu tigre. Se quiseres... Posso sê-lo... A vida toda.

O silêncio inundou o quarto pelos minutos seguintes. Nenhum de nós foi capaz de falar durante esse tempo, o clima parecia ter ficado meio estranho, após eu ter mencionado aquelas palavras. Talvez... Talvez ela se estivesse a sentir desconfortável com elas. Talvez não soubesse o que responder-me, ou simplesmente... Talvez ela não... Quisesse. Todas as hipóteses tinham de ser postas em cima da mesa. Qualquer uma delas era válida e eu... Eu só queria...

Fui para falar, quando ela se levantou. Voltei a fechar a boca, somente a encarar-lhe a figura. Só o poder fixar-lhe a pele suave das costas assim, chegava para ter vontade de alcançá-la, tocar-lhe de novo. Não era errado... Eu desejar uma resposta, pois não?

Eu tinha-lhe, praticamente, aberto o meu coração. Era de esperar que, pelo menos, eu tivesse o direito de ouvir alguma coisa, nem que fosse um “não” redondo.

Alex...

- Vamos aquecer o jantar – foi a única coisa que ela disse quando parou à porta, a encarar-me. Aquele sorriso voltou-lhe aos lábios depois, como antes – Algo me diz que estás mesmo a precisar de recuperar as forças... Ficas sempre meio poético a falar quando tens fome.

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